26 de septiembre de 2012 | Entrevistas | Misión Internacional de Solidaridad y DDHH | No al golpe de estado en Paraguay | Anti-neoliberalismo | Derechos humanos | Luchadores sociales en riesgo | Soberanía Alimentaria
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Adalberto Castro é um dos camponeses paraguaios presos durante o operativo policial na zona de Curuguaty do dia 15 de junho, que acabou com onze sem terra e seis policiais mortos. Perdeu um irmão no enfrentamento, foi ferido de bala, torturado e ameaçado de morte. Agora conta sua história à Rádio Mundo Real.
Adalberto, de 24 anos, é o filho de Mariano Castro, presidente da Comissão de Vítimas do grupo de familiares dos camponeses caídos no massacre. Adolfo, irmão de Adalberto, tinha 28 anos e dois filhos. A informação que tem a família é de que foi executado, o que conforme várias fontes não só camponesas teria acontecido com vários dos sem terra mortos. Néstor, também irmão de Adalberto, foi ferido na mandíbula e detido. Foi levado para Assunção, capital paraguaia, para a reconstrução de sua boca.
No dia 15 de junho um enorme operativo policial com centenas de policias, polícia montada, um helicóptero, cerca de 20 viaturas e algumas ambulâncias atropelou a área de Marina Cué, a cerca de 35 quilômetros da cidade de Curuguaty, no departamento de Canindeyú. Onze camponeses e seis policiais foram mortos, houve dezenas de feridos e 12 detidos. Há uma lista de 54 pessoas acusadas com sete cargos e dezenas delas estão prófugas.
Segundo a informação fornecido pelos camponeses, avalada pelo governo de facto de Paraguai, Marina Cué, de 2000 hectares, é terra pública para a reforma agrária, mas foi apropriada irregularmente pela empresa agrícola pecuária Campos Morombí, do ex-legislador colorado Blas Riquelme, morto no dia 2 de setembro. Riquelme foi beneficiado com terras griladas, que deveriam ter sido destinadas à reforma agrária, pelo ex-ditador paraguaio Alfredo Stroesnner.
Nove anos tem a luta camponesa pela área de Marina Cué, com várias entradas dos sem terra e desalojamentos. O do dia 15 de junho foi um desastre, um massacre.
“Nós esperavamos que a polícia ou alguém da justiça fossem conversar, (que levassem) um documento que ia dizer si essa área tinha dono ou não. Não fomos para lutar, nunca pensei que fosse acontecer isso, senão não íamos estar com nossos filhos ali”, disse Adalberto à Rádio Mundo Real. A entrevista foi feita na cadeia regional de Coronel Oviedo, no departamento de Caaguazú.
O camponês contou que a polícia atropelou, que não houve uma tentativa de dialogar dos oficiais. O ministro do Interior do governo de Fernando Lugo, Carlos Filizzola, que renunciou nesse dia 15 de junho por causa da matança e os questionamentos recebidos, disse à Rádio Mundo Real que o chefe do operativo, Erven Lovera, havia buscado falar com os camponeses. As versões dos sem terra dizem o contrário. “Villalba (Rubén, um dos principais dirigentes do acampamento sem terra) pediu para falar, (mas) eram milhares e atacaram”, disse Adalberto.
Em uma reportagem do site Paraguay.com, que teve uma equipe jornalistica que acompanhou o operativo e esteve junto a Lovera antes do início, é possível ver o chefe de polícia falando com um superior por celular e informando que “o grupo anti-motim com montada irá atropelar diretamente”. O plano de Lovera, que acabou morto com feridas de bala de alto calibre, corresponde com as versões camponeses sobre o início do enfrentamento em Marina Cué.
Alguns camponeses, e especialmente um prófugo que preferiu não dar seu nome, reconheceram que havia companheiros com escopetas para se defenderem, mas negam a existência de armas de alto calibre. Filizzola reafirmou que os camponeses não têm essas armas e que nunca houve problemas nos 100 operativos de desalojamentos que foram feitos em seu mandato como ministro. O ex-ministro apoia a tese da presença de francoatiradores escondidos, para gerar uma matança e assim desestabilizar o governo de Lugo.
Adalberto contou que tentou fugir mas foi ferido em seguida em uma perna. Foi ameaçado de morte, agredido e tratado de “bandido”. Disse ainda que um polícia intercedeu para que não lhe batessem mais. Outro lhe pediu para fugir, mas Adalberto soube que lhe atirariam pelas costas e não aceitou o convite. Preferiu ficar, viver o tormento e tentar salvar sua vida.
O jovem contou à Rádio Mundo Real na penitenciária de Coronel Oviedo que às vezes sente dor em sua perna e que quer outro exame médico. O doutor do estabelecimento pediu que o deixem sair para isso, mas o judiciário negou, conforme o camponês. No dia 15 de junho foi levado para um hospital de Curuguaty às 13 horas, várias depois de ter sido ferido. Ali teve alta médica quando ainda sentia dor. Disse que tem a bala adentro de sua perna, o que é negado pela direção de Coronel Oviedo.
“Quero minha liberdade. Meu pecado foi querer um pedaço de terra só, porque eu não tinha armas, nunca pensei (que aconteceria um enfrentamento)”, disse Adalberto. Seu pai tem visitado ele algumas vezes, mas é caro ir da comunidade de Yvy Pytã, a cinco quilômetros de Marina Cué, até Coronel Oviedo.
Conforme os advogados dos nove detidos em Coronel Oviedo, a investigação do que aconteceu no dia 15 de junho durará seis meses. Os camponeses têm a ilusão de serem liberados. “Quando saia quero ter uma terra, trabalhar e formar uma família”, confiou Adalberto.
Foto: Rádio Mundo Real
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