16 de diciembre de 2011 | Entrevistas | Justicia climática y energía | COP 17
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A nova rodada de negociações das Nações Unidas sobre Mudança Climática está chegando nesta sexta-feira a seu fim em Durban, África do Sul, sem avanços no que diz respeito ao principal instrumento para combater a crise do clima: as reduções de emissões drásticas dos países desenvolvidos.
O mundo rico, responsável histórico da mudança climática, mais uma vez encontrou o caminho para não se comprometer com reduções de emissões. Não satisfeito com isso, está perto de atingir uma mudança de sistema na luta internacional contra esta crise, que permitiria implementar um regime que não o obrigaria a reduzir sua contaminação.
A coordenadora do Programa de Justiça Climática e Energia da federação ambientalista Amigos da Terra Internacional, Sarah-Jayne Clifton, lamemtou a inação dos Estados desenvolvidos. “Temos visto infelizmente esforços adicionais dos Estados Unidos, Canadá, Japão e outros países ricos para destruir os compromissos existentes, e isso significa inação no que diz respeito aos cortes de emissões, mas também passar a responsabilidade aos Estados em desenvolvimento”, disse a ativista em diálogo com Rádio Mundo Real.
Os Estados Unidos jamais ratificaram o Protocolo de Kioto, que é o único instrumento legalmente vinculante que obriga fazer reduções de emissões ao mundo desenvolvido. O Canadá garante que abandonará esse acordo e Rússia e Japão têm ameaçado várias vezes fazer o mesmo. Os Estados industrializados têm buscado nos últimos anos fazer com que os países em desenvolvimento assumam compromissos obrigatórios, dentre eles de reduções de gases de efeito estufa, que não lhes correspondem sob a Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática nem o Protocolo de Kioto.
As nações ricas têm a mira colocada principalmente na China e Índia, mas também em países como Brasil e África do Sul, por exemplo. Essas economias emergentes, não são as responsáveis históricas da mudança climática. No entanto, é urgente que revisem suas padrões de produção e consumo, que seguem os passos do desenvolvimento do Norte causante da mudança climática.
Para Sarah-Jayne, 75 porcento das emissões de gases de efeito estufa à atmosfera é responsabilidade dos países desenvolvidos, “não da China, Índia ou do Brasil”. “A União Europeia e Estados Unidos têm tentado passar as responsabilidades aos países como China e se livrar de suas responsabilidades”, disse a ativista. A China é o maior contaminante mundial, mas também tem a maior população, 1 bilhão de habitantes. “Se você olhar as emissões da China per capita são muito menores do que as dos Estados Unidos”, explicou Sarah-Jayne.
Para a coordenadora internacional da Amigos da Terra, os países desenvolvidos devem se comprometer a reduzir suas emissões e fornecer financiamento ao Sul global para a adaptação e mitigação da mudança climática. “Depois países como China e Índia podem também realizar ações”, considerou.
A União Europeia tem afirmado em Durban que estaria disposta a um segundo período de compromissos de reduções de emissões sob o Protocolo de Kioto. Mas põe algumas condições. Uma delas é que se estipule um “mandato de Durban”, que abriria uma nova linha negociadora para atingir um novo acordo no futuro. Muitos Estados ricos veem aí a possibilidade de um sistema que não os obrigue a reduzir emissões contaminantes. Outra das condições da União Europeia é que sejam reforçados os mercados de carbono, que abrem as portas ao comércio de carbono e que permitem que as nações ricas financiem projetos no Sul a troca de evitar reduções de emissões em nível nacional.
“Amigos da Terra Internacional se opõe completamente ao comércio de carbono em todas as suas formas. Vemos isto como uma falsa solução à crise do clima”, disse a coordenadora. “Observamos aqui pressões para uma expansão maior do comércio de carbono, para que hajam novos tipos de mercados de carbono, que permitam que os países ricos evitem ainda mais sua responsabilidade de cortar emissões”, acrescentou.
Em relação ao novo mandato pelo que pressiona a União Europeia, a ambientalista afirmou que uma nova rodada negociadora “significaria de cinco a dez anos de inação, quando precisamos de uma ação urgente agora”. Lamentou ainda o papel “muito destrutivo” do bloco europeu na COP de Durban.
Para ela, as soluções reais à mudança climática foram vistas fora do Centro Internacional de Convenções, onde são realizadas as negociações oficiais. Nas ruas de Durban têm havido “protestos, ações e celebrações” que têm apresentado “as soluções que realmente precisamos ver”, disse. Milhares de camponeses, indígenas, pescadores, ambientalistas, trabalhadores, entre tantos outros, promoveram as energias renováveis, a agricultura camponesa, a agroecologia, a soberania energética e alimentar, a gestão comunitária das florestas, entre outras que consideram “soluções reais à mudança climática”.
“A mensagem principal que precisamos colocar é de que a solução à mudança climática realmente está no fortalecimento desses movimentos e das conexões entre eles”, considerou a ambientalista. Para ela, esse fortalecimento é um trabalho fundamental, para que os governos e seus negociadores avancem na linha de “nossos interesses”, ao invés de “empurrar os interesses dos grandes contaminantes, as companhias transnacionais e as elites financeiras”.
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