4 de enero de 2012 | Entrevistas | Anti-neoliberalismo | Derechos humanos
No fim de 2011, quando finalmente voltou ao país o deposto presidente José Manuel Zelaya, a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) realiza um balanço onde a continuidade do autoritarismo, a falta de garantias e a intervenção norteamericana tanto na segurança pública quanto na economia hondurenha são os elementos dominantes.
É o que expressa Carlos H. Reyes, sindicalista e referente da FNRP em entrevista com RMR.
Carlos indica que, como saldo do golpe de maio de 2009, tem havido uma mudança na super-estrutura econômica e política hondurenha em que os grupos dominantes têm avançado no controle dos serviços públicos –por exemplo através da privatização do abastecimento elétrico- e das principais terras agrícolas do país centro-americano.
“Está sendo promovido um projeto agora de ‘cidades modelo’, por pressão do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos que vai aprofundar ainda mais a alienação das nossas riquezas, de nosso trabalho industrial e de nossos recursos naturais”, disse Reyes.
Ao realizar um balanço do ano da perspectiva do campo popular, Reyes destacou que manteve-se a perseguição dos ativistas sociais, sindicais, camponeses e de jornalistas críticos ao regime “da estrutura golpista que ainda segue governando”.
Outra característica da atualidade hondurenha é a prevalência do crime organizado, fundamentalmente do narcotráfico e seus aparelhos de segurança em conivência com os do Estado. Sobre isso, indicou que atualmente a força pública policial tem sido absorvida pelo Exército e que existe nesse processo uma presença destacada dos Estados Unidos e que conta com o “assessoramento” de forças de segurança colombianas.
O país norte-americano conta hoje com três bases militares em Honduras, em uma das quais, projeta-se a construção de um novo aeroporto internacional que substitua o atual de Tegucigalpa, disse Reyes para exemplificar a crescente penetração de Washington em Honduras após o golpe de Roberto Micheletti.
“Diante de toda esta situação nós afirmamos que, antes de anunciar eleições para 2013 e que o resto dos países tivessem reconhecido Honduras, deveria ter sido convocada uma Assembleia Nacional Constituinte para gerar um novo pacto político-social e ver como se refunda este país porque nos deixam em uma situação muito grave”, refletiu Reyes.
A FNRP como eixo
Sobre o que é esperável na situação do país no ano que começa, Reyes disse que o objetivo é que a FNRP, articulada precisamente na resistência ao golpe, ocupe o lugar de principal ator social, além do debilitamento que significou, com a volta de Zelaya, o reconhecimento do governo de Lobo e o início de um rumo eleitoral através da fundação do Partido Livre.
Ter estabelecido as eleições para 2013 e o reconhecimento internacional propiciado pelos governos da Venezuela e da Colômbia tem servido ao governo de Lobo como legitimação e poderia significar um elemento de divisão na FNRP pela definição de candidaturas e a entrada em uma campanha eleitoral neste ano.
Nesse sentido, Reyes indicou que, ao surgirem oito ou nove partidos para concorrer pela Presidência em 2013, mesmo com a vitória do Partido Livre de Zelaya e a assunção de sua esposa Xiomara Castro como mandatária, o governo dificilmente contaria com maioria parlamentar e seria uma força debilitada.
Em troca, Reyes e outros dirigentes da resistência proporam percorrer o caminho da luta social e a Assembleia Constituinte que promovera as mudanças estruturais necessárias no país, bem como capitalizar a mobilização realizada durante o exílio de Zelaya.
Seu posicionamento não foi o preponderante, e mesmo discordando com o caminho eleitoral tomado, a dirigência da FNRP vem acompanhando o processo mas enfatizando o fortalecimento da Frente como principal ator e interlocutor social hondurenho.
“De que serve um Partido se não possui uma frente poderosa que o ampare e o apoie? Neste país o novo é a FNRP, não os partidos. Os partidos são o velho”, destacou Carlos Reyes.
Foto: honduraselogoali.blogspot.com
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