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3 de Outubro de 2011 | |

“Filha da Ditadura”

Ativista chilena fala sobre o florestamento e a empresa Arauco em seu país

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O modelo florestal chileno baseia-se na “invasão territorial”, especialmente no sul e centro sul do país, “e sobretudo na invasão do território (indígena) mapuche”, adverte a pesquisadora Camila Montecinos, da organização internacional GRAIN.

“Somente a Arauco (empresa florestal e de celulose chilena) tem mais terra do que todo o povo mapuche junto. O nível de concentração da terra tem sido brutal no Chile, assim como o desemprego no campo”, acrescenta Montecinos em entrevista com Rádio Mundo Real. Há um grave conflito territorial no Chile onde se enfrentam as empresas florestais contra o povo mapuche originário das zonas em disputa, que muitas vezes é forçado ao desalojamento.

GRAIN é uma pequena organização internacional que trabalha apoiando camponeses e movimentos sociais em suas lutas por atingir sistemas alimentares baseados na biodiversidade e o controle comunitário. No dia 29 de setembro GRAIN recebeu o prêmio conhecido como “Nobel Alternativo” de parte da fundação Right Livelihood Award, por sua defensa das comunidades agrícolas e a denúncia de compras massivas de terras em países em desenvolvimento por parte de interesses financeiros estrangeiros.

Montecinos conversou com Rádio Mundo Real durante uma visita feita no dia 19 de setembro em várias zonas do Uruguai atingidas pelas monoculturas de eucaliptos e pinus e pela indústria de celulose. A atividade foi organizada pelo Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM, sigla em inglês) durante a celebração do Dia Internacional contra as Monoculturas de Árvores (21 de setembro).

A “invasão territorial” é o principal ponto em comum que Montecinos encontrou entre os modelos florestais do Uruguai e Chile, que em linhas gerais são muito parecidos. No entanto, o modelo chileno nasceu duas décadas antes do que o do Uruguai, nos anos 70, também com base em eucaliptos e pinus, e possui atualmente várias fábricas de celulose em funcionamento. Para a ativista chilena, o florestamento em seu país se desenvolveu com decretos e condições favoráveis da Ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). A Ditadura “pagou as empresas todo o processo de plantios”, diz Camila.

A pesquisadora também fala do forte lobby das empresas florestais e de celulose sobretudo o setor político de seu país e do fustigamento que sofrem as comunidades mapuches atingidas pelos plantios, cercadas por uma Polícia “semi-militarizada”.

Arauco é uma das empresas mais destacadas em nível internacional no setor florestal e de celulose, com empreendimentos e planos em vários países. No Uruguai, por exemplo, a companhia criou junto com a empresa sueco-finlandesa Stora Enso, o consórcio Montes del Plata, o maior proprietário de terras nesse país (mais de 250.000 hectares), que além disso está construindo uma fábrica de celulose em Conchillas, no departamento de Colonia.

“Arauco tem sido famosa no Chile pelos processos de contaminação”, diz Camila, que conta um dos casos mais emblemáticos de poluição da empresa. “Agora quer instalar todos os dutos de efluentes em uma zona de pesca artesanal altamente rica”.

A ativista afirma que “Arauco é uma transnacional, se é chilena ou não já dá na mesma, é uma transnacional e devemos olhar par ela como tal”. Diz ainda que “uma coisa que às vezes torna a Arauco mais brutal do que outras empresas é que acredita que, por exemplo no Chile, não há suficiente repúdio público, social, para ter que se preocupar. (...) Sente que tem tanto poder que ninguém pode se opor”. No entanto, “creio que isso está mudando e vão se encontrar com a surpresa de que existe sim uma oposição social forte”.

A pesquisadora destaca que “Arauco é filha da Ditadura de Pinochet”.
“Surgiu com os subsídios entregues por essa Ditadura, manteve-se porque pôde explorar uma mão de obra de forma extrema, com baixos salários, falta de condições de trabalho, atividades anti-sindicais”, explica a ativista, denunciando ainda que esse apoio ditatorial a Arauco teve “mortes em jogo” e que após 1990, as políticas neoliberais continuaram favorecendo ela. “Para que a Arauco pudesse crescer, milhares de famílias no Chile tiveram que perder sua terra e abandonar o campo”, conclui.

Foto: Radio Mundo Real.

(CC) 2011 Radio Monde Réel

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