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16 de febrero de 2010 | |

Continuar lutando

Entrevista com Pedro Cayuqueo, diretor do jornal Azkintuwe

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Azkintuwe é um jornal que nasce em 2003, de uma iniciativa de comunicadores mapuches que, com base na realidade que estavam sofrendo mapuches como povo, decidiram lançar um veículo de comunicação com uma pretensão profissional e uma orientação de defesa dos direitos do povo mapuche e indígena em geral.

Foi o que explicou à Rádio Mundo Real seu diretor, Pedro Cayuqueo, que neste momento está participando da viagem número 68 do Peace Boat, uma organização japonesa que promove a paz pelo mundo.

Cayuqueo falou da necessidade de transmitir a visão mapuche além do ativismo informativo, o que para ele significa realizar um tipo de comunicação que busque “comunicar para a ação”.

Por outro lado, consultado sobre as perspectivas para o povo mapuche no futuro governo do multimilionário direitista Sebastián Piñera, Cayuqueo afirmou que, por mais que fosse estranho, estas eram as mesmas às que havia com o governo da centro-esquerdista Concertação de Partidos para a Democracia, que governou o país desde a recuperação democrática.

“No Chile a ditadura não foi derrotada. A ditadura pactou com a Concertação a entrega do poder. E nesse pacto as concessões dos setores democráticos foram infinitas. No Chile a Concertação tem administrado a herança do [ditador Augusto] Pinochet durante quase vinte anos: o modelo econômico vigente no Chile é o modelo econômico neoliberal de Pinochet. A Carta Magna que nos rege como país, o contrato social mais importante que nós cidadãos temos com o Estado, é um contrato social criado por Pinochet nos quartéis”, afirmou.

“No caso dos povos indígenas, os reconhecimentos e avanços em matéria legislativa são muito menores. Chile é o país mais atrasado da América Latina em reconhecimento de direitos indígenas. Nós no Chile não existimos como povos”, apesar de que sejam reconhecidos como mapuches mais de um milhão de pessoas, explicou.

Por isso, indicou que agora “até poderia se decir que as cosas vão ficar mais claras, porque o que temos tido em vinte anos têm sido governos de direita também; o problema é que têm sido administrados por setores que se dizem democráticos. Hoje em dia quem vai governar vai ser realmente a direita empresarial chilena. Então nós vemos que as perspectivas não são muito alentadoras, acreditamos que vai se aprofundar o modelo neoliberal, vão se aprofundar portanto os conflitos sociais. Não sei se haverá mais repressão, é como um paradoxo [porque] a direita, não sei se é mais inteligente, mas é muito mais maquiavélica na hora de descifrar conflitos sociais. E o poder do dinheiro te permite a coopta, te permite silenciar, te permite comprar intenções, e se tem algo que a direita tem no Chile hoje em dia e o governo particularmente, é dinheiro”, afirmou Pedro Cayuqueo.

Assim para Cayuqueo “se aproxima um cenário muito complexo, não somente para os mapuches mas também para os chilenos em geral”. E acrescentou: “O que nos resta aos de baixo é continuar nos reorganizando, continuar batalhando, continuar avançando, lutando por nossos direitos, assumindo que talvez os mapuches, poderiamos dizer, que temos vivido durante cerca de 140 anos em ditadura no Chile”.

Foto: Patricio Valenzuela

(CC) 2010 Radio Mundo Real

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