O Canal 10 é um dos canais de televisão aberta mais importantes do Uruguai, e decidiu nesta semana proibir a emissão da campanha “Um beijo é um beijo” do coletivo local Ovelhas Negras.

Na campanha aparecem três casais que se beijam em diferentes lugares de Montevidéu, capital do país: um casal de mulheres, um travesti e um homem e um casal de homens. A mensagem conclui em todos os casos com uma frase que lembra que as leis uruguaias condenam a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero.

Depois de várias tentativas para evitar a emissão da campanha audiovisual, um suposto “conselho assessor” do canal uruguaio argumentou que havia “falta de criatividade” na elaboração da mensagem. Quem tenha visto a programação deste canal alguma vez sabe que esta resposta é um total dislate.

Programas de fofocas sobre famosos. Novelas enlatadas que há anos ninguém vê no resto do continente. Programas de humor que podem ser classificadas de muitas formas, mas dificilmente de inteligentes.

Na programação do auto-denominado “canal dos uruguaios” não se refletem grandes esforços criativos, e por isso surprende a desculpa que foi utilizada para não emitir a campanha da Ovelhas Negras.

“Que paradoxo! Uma campanha de bem público contra a discriminação é discriminada. Sim, parece mentira, mas a realidade às vezes supera a ficção”, afirma uma carta de denuncia divulgada ontem o grupo de ativistas.

O documento público continua fazendo várias perguntas: “por quê nossos beijos são “pouco criativos”? Nós gays, lésbicas e trans somos anti-estéticos? A que se deve esta súbita preocupação pela imagem que projetamos e este pudor seletivo que emula sem problemas o que existia há 100 anos? Onde ficou o lema do Canal 10 “pensando em todos”? Nós não fazemos parte desse “todos”?”.