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4 de enero de 2012 | | |

Questão de sobrevivência

As corporações transnacionais e seu papel na crise climática

O ativista argentino Gonzalo Berrón, considerou “vergonhoso” que os governos do mundo não possam chegar a compromissos mínimos para combater com eficiência a mudança climática.

Pouco antes de terminarem as negociações oficiais das Nações Unidas (ONU) sobre clima, realizadas na cidade sul-africana de Durban em dezembro, Berrón disse que as tratativas internacionais estavam “condenadas ao fracasso” pelo menos nessa instância, o que considerou como um “escândalo” para os povos do mundo.

O dirigente, que faz parte da Aliança Social Continental (movimento integrado por organizações sociais, redes temáticas e organizações setoriais de todo o hemisfério americano) não se equivocou. As negociações da ONU não tiveram compromissos de redução de emissões contaminantes obrigatórios e acordes à ciência, nem concretizaram um financiamento climático do mundo desenvolvido que permita aos países em desenvolvimento enfrentar a crise.

No entanto, na conversa com Rádio Mundo Real Berrón foi auto-crítico: “creio que nossas mobilizações vêm sendo relativamente frágeis, não tem uma consciência da urgência de se mobilizar para que isto mude”, disse. E acrescentou que o que está em jogo é a “sobrevivência”.

A entrevista com o ativista argentino foi realizada na Universidade de KwaZulu Natal de Durban, onde foram realizadas as atividades da sociedade civil durante as duas semanas de negociações da ONU no Centro Internacional de Convenções dessa cidade.

O diálogo ocorreu no fim de uma atividade denominada “Desmantelando o poder das empresas transnacionais e exigindo alternativas de desenvolvimento”, organizado pelo Transnational Institute da Holanda, Amigos da Terra Internacional, a Aliança Social Continental, Ecologistas em Ação da Espanha e a organização brasileira FASE, além de outros.

“No contexto da crise sistêmica global, as corporações transnacionais têm desempenhado um papel protagonístico. Não apenas temos visto como os bancos e as agências de crédito têm acumulado lucros apesar da crise, também vemos como estão obtendo benefícios da especulação com os preços dos alimentos e da crise climática”, expressava a convocatória à atividade. “Apesar da deslegitimação do poder político e econômico das empresas transnacionais pelo colapso do modelo neoliberal, estão se reposicionando e reinventando-se. Têm sido as principais beneficiárias do resgate dos governos, enquanto que os povos têm tido que sofrer a crise”, acrescentava o texto.

Por isso a entrevista com Berrón focou-se no papel das grandes corporações transnacionais em um marco de crise climática. “Porque uma das principais questões que as transnacionais estão levando ao debate sobre clima é para ver como ganham dinheiro com uma situação que é uma catástrofe para a humanidade e para o planeta em seu conjunto”, disse o dirigente.

Berrón destacou que as grandes empresas “não querem nada que lhes reduza sua capacidade de gerar lucro” e por isso não aceitam “nenhum tipo de solução vinculante” que possa limitar os atuais padrões de produção e consumo. Para o ativista esta posição das empresas é a que “está ganhando”, porque as companhias “influem em países que são fundamentais nestas negociações, como os Estados Unidos”.

O representante da Aliança Social Continental destacou também os posicionamentos que consideram que a mudança climática é algo “irreversível”, porque são os que têm favorecido a “economia verde”, que “não é nem mais nem menos do que o Estado dizendo ’na verdade temos que avançar junto com o mercado para soluções para o meio ambiente’”.

“Quando nós sabemos que na verdade não são soluções para o meio ambiente, são soluções para o mercado”, disse Berrón. A economia verde aparece como ocultando a busca para que as empresas continuem ganhando dinheiro inclusive às custas da crise ambiental. “Isso não é justo sobretudo porque não soluciona os problemas do planeta e da humanidade”, disse o dirigente argentino.

O ativista indicou ainda que a captura corporativa de um espaço como o das Nações Unidas é “o fim de uma cadeia onde as corporações e os negócios vão capturando os diferentes níveis de decisão”. “Dessa forma vão corroendo o que é a democracia, a democracia vai ficando cada vez mais em mãos do dinheiro, das corporações, porque são as que mais volumes de dinheiro estão utilizando”, acrescentou.

Berrón está preocupado por esta “captura da democracia e da soberania popular”, que considera que “não só ocorre nos países do Sul”, como também por exemplo, e sobretudo, “no centro do mundo desenvolvido, nos Estados Unidos”. O dirigente acredita que os grupos sociais que trabalham estes temas em diversas partes do mundo devem atingir certa “convergência” e contribuir de forma “cooperativa e solidária” a um “movimento internacional” para tentar impor limites ao agir das corporações transnacionais.

Foto: http://www.flickr.com/photos/foei/

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