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26 de octubre de 2010 | |

Custos não computados

Entrevista com Carlos Vainer da Universidade Federal do Rio de Janeiro e assessor do MAB

A hidroenergia e seu saldo de deslocamentos, privatização e ruptura de ecossistemas é ainda competitiva somente porque os custos sociais e meio-ambientais não entram nos cálculos das corporações que fazem da construção de barragens um negócio. E esse precisamente pode ser seu elo mais frágil, explica o professor Carlos Vainer.

A luta contra os megaprojetos que privatizam os bens naturais tem se transformado atualmente numa espécie de guerra de posicionamentos entre os movimentos sociais e organizações aliadas e o grande capital. Nesse sentido, quem vai vencendo?

A pergunta de Rádio Mundo Real, durante o 3º Encontro Internacional de Atingid@s por Barragens no início de outubro em Temacapulín, Estado de Jalisco, México, é feita ao especialista, o brasileiro Carlos Vainer.

O professor Vainer é Coordenador do Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um instituto que precisamente faz o monitoramento destes processos com uma perspectiva acadêmica, mas também comprometida e ativista.

Vainer viajou para Temaca como assessor do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) do Brasil, o maior movimento deste tipo na América Latina e provavelmente no mundo.

“A resposta não é a mais otimista que eu gostaria de dar”, começa dizendo Vainer. “Creio que vamos perdendo, ainda não conseguimos criar um movimento internacional o suficientemente forte como para parar a construção de barragens”, considera Carlos Vainer.

Para ele, a transformação da água em mercadoria passou de ser realizada pelas empresas públicas a ser uma tarefa cada vez mais privada.

Boas novas

“A boa notícia é que a resistência cresce”, diz o pesquisador carioca, marcando a crescente convocatória dos Encontros Internacionais de Atingidos, começando em Curitiba, Brasil (1997) em que na América Latina praticamente não existiam movimentos articulados de resistência, até este encontro mexicano em que quase em exceção estiveram presentes um ou vários movimentos por país.
Da metáfora aos fatos

Falar de “guerra da água” tem se transformado num lugar comum. No entanto, quanto falta para que dessa metáfora se passe aos fatos? Ou, quanto falta para que existam intervenções militares diretas de países centrais nos grandes reservatórios deste recurso no sul do planeta, como no caso emblemática da Amazônia?

“Vejo hoje guerrilhas da água com conflitos e processos localizados em vários lugares... que ainda não temos sido capazes de transformar em uma guerra global da água”, reflete Carlos Vainer ao indicar que as burguesias locais têm demonstrado ser boas aliadas do capital transnacional que vem se apropriando crescentemente desse recurso “sem necessidade de invasões”.

“Se algo podemos tirar em limpo deste encontro é que quando se encontra um camponês do Equador e um indígena das Filipinas e se encontram ambos em resistência... falam a mesma língua”, diz Vainer, considerando que se aproxima o momento de “uma luta de classes em nível internacional”.

Além da matriz

Inclusive da perspectiva crítica do processo de privatização da água e os energéticos ouvem-se vozes que falam de uma questão de tempo. Conforme estas opiniões, o problema está numa questão tecnológica, que será superada ao ser modificada a matriz energética.

Vainer discorda com este conceito: “as questões tecnológicas fazem parte da luta de classes”, insiste e lembra o proceso de destruição de máquinas da Revolução Industrial na Grã Bretanha. “A tecnologia é um modo de luta que se utiliza muitas vezes para debilitar os movimentos sociais em resistência”.

Para este pesquisador do Brasil, a energia elétrica com base nas barragens como até agora se conhece, é rentável unicamente porque por fora das contas destes projetos ficam os custos sociais e naturais. “Hoje a hidroenergia é um ’bom negócio’ porque os custos sociais e ambientais não são computados”, afirma.

Foto: jovenestehuelches.blogspot.com

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