Num comunicado, a organização camponesa de base expressa sua posição sobre as soluções à mudança climática que promoverá na Conferência, e rejeita as que considera “falsas soluções” a este fenômeno.

“As negociações climáticas têm se transformado num grande mercado. Os países industrializados, histiricamente responsáveis pela maioria das emissões de gases de efeito estufa, estão inventando todos os truques possíveis para evitar reduzi-las. Por exemplo, o ‘Mecanismo para um Desenvolvimento Limpo’ (MDL) do protocolo de Kioto permite que os países continuem contaminando e consumendo como de costume, a troca de pagos mínimos para que supostamente os países do Sul reduzam suas emissões. O que na verdade acontece é que as empresas ganham duas vezes: por contaminar e por vender falsas soluções”, afirma o comunicado.

Nele, também se expõem como falsas soluções aos mecanismos de REDD (sigla que significa Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação), e se rejeita a geo-engenharia, que envolve as propostas em grande escala para alterar abertamente o clima. Também se objeta qualquer participação do Banco Mundial na gestão dos fundos e políticas relativas à mudança climática.

“Muitos governos dos países do Sul, atraídos pelos possíveis lucros, estão apostando nestas falsas soluções e negando-se a implementar medidas que efetivamente enfrentem a mudança climática, como apoiar a agricultura camponesa sustentável, orientar a produção para os mercados internos, e estipular políticas efetivas de economização de energia da indústria”, indica a Vía Campesina.

Entre as verdadeiras soluções que promove o movimento, está o de adotar as demandas do Acordo dos Povos de Cochabamba, celebrado por mais de 35.000 pessoas que se reuniram em abril na Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, realizada em Bolívia.

“A pesquisa científica mostra que nós, os povos camponeses e indígenas poderiamos reduzir as emissões globais atuais até 75% ao aumentar a biodiversidade, recuperar a matéria orgânica do solo, substituir a produção industrial de carne por uma produção diversificada em pequena escala, expandir os mercados locais, parar o desmatamento e fazer um manejo integral da floresta”, afirma o comunicado.

E acrescenta: “A agricultura camponesa não só contribui positivamente ao equilíbro do carbono do planeta, como também cria 2,8 bilhões de postos de trabalho, para homens e mulheres em todo o mundo, e é o melhor modo de lutar contra a fome, a desnutrição e a crise alimentar atual”.

Por isso, as soluções que promove o movimento camponês representam o pleno direito à terra e à recuperação dos territórios, a soberania alimentar, o acesso à água como bem social e direito humano, o direito a usar, conservar e trocar livremente as sementes, e a desconcentração e fomento aos mercados locais. Estas são as propostas que levará a Cancún, para que os povos camponeses e indígenas continuem alimentando o mundo e enfriando o planeta.

Imagem: Vía Campesina