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6 de Dezembro de 2010 | Notícias | Justiça climática e energia | COP 16
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Com uma mística e um ato onde participaram cerca 1.500 pessoas, neste sábado foi inaugurado no espaço que a Via Campesina instalou em Cancún para denunciar as falsas soluções à mundança climática que estão sendo promovidas nas negociações oficiais da COP 16 e promover as soluções reais propostas pelo movimento de base.
Em entrevista com Rádio Mundo Real, Paul Nicholson -integrante da Coordenação Européia da Via Campesina- indicou que o movimento está presente nesta cidade mexicana porque as crises que o mundo rural e o meio ambiente enfrentam são o resultado das mesmas políticas, que estão causando um colapso em nível sistêmico.
“Por causa destas políticas temos uma crise alimentar e uma crise climática, e precisamos de soluções; as soluções que estão sendo apresentadas são meramente uma mercantilização da vida”, afirmou Nicholson. Em oposição a este modelo, propõe que sejam aplicadas políticas realmente sustentáveis, que abranjam o direito à alimentação e o modelo de desenvolvimento de uma forma integral. Por isso, afirmou que deviam ser mudadas as atuais políticas e avançar numa economia “muito mais local e sustentável”.
Quanto às demandas do movimento camponês, indicou que no começo, a Via não concordava com o Protocolo de Kioto, devido a que, apesar de possuir“uma parte boa” - no que diz respeito a estipular limites às emissões de gases de efeito estufa- tinham outras inaceitáveis, que significam a privatização do ar concedendo direitos de contaminação.
“Assim, nos dizemos, que a agricultura camponesa sustentável é a que esfria o planeta e é a que alimenta o planeta, com um modelo de agricultura agroecológica”, indicou. Este tipo de agricultura está nas antípodas do modelo industrial, que produz mais de 55% dos gases que aquecem o planeta, afirmou Nicholson.
Por isso, na Vía Campesina considera-se que “a soberania alimentar deve ser o eixo sobre o qual devem estar as bases das políticas, tanto alimentares como em relação à mudança climática”, afirmou o dirigente camponês.
É o que afirma também Alberto Gómez, representante da Vía Campesina Região América do Norte. “O tipo de agricultura que praticamos está ajudando a captar as emissões de carbono, estamos ajudando a esfriar o planeta. Nós, nossa agricultura, é uma solução real à agricultura industrial”, afirmou Gómez, em entrevista com Rádio Mundo Real.
El dirigente considerou que é preciso que o papel dos camponeses seja revalorizado e dar importância à soberania alimentar, exigindo o compromisso dos governos para a redução efetiva de emissões em 50%, e rejeitando por tanto as medidas que sejam promovidas nas negociações oficiais, que considera “falsas soluções”.
“Para nós, a falsa solução é o mercado de carbono e todos os mecanismos que têm sido implementados e que vão ser implementados para fazer negócios. Facilitar as cosas para que as transnacionais façam negócios não é uma solução, isso é ver como numa crise múltipla onde estamos, o capital sai adiante buscando outros espaços de negócio”, disse Gómez. Conforme indicou, dentre estas falsas soluções à mudança climática estão os cultivos transgênicos e os agrocombustíveis, bem como o regime de monoculturas.
Além disso, considerou que o fato de que as negociações oficiais tenham como único tema a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) faz com que elas sejam “um fracasso para o futuro da humanidade”.
“Temos que buscar a maneira, muitas formas de fazer com que isso descarrile, que isso não avance: é melhor nenhum acordo que um mau acordo”, disse.
Paul Nicholson, por sua vez, afirmou que o melhor resultado era que fracassassem as negociações, porque “não existem condições para que haja um acordo positivo” no plano ambiental, já que “aqui o que estão fazendo, é comendo como se fosse um bolo, o meio ambiente”.
“Então, nas condições políticas onde Bolívia está sendo assediadas em todas as esquinas, acreditamos que não existem condições para fazer um bom acordo: então, é um melhor um não acordo que um mau acordo”, considerou.
Indicou por outro lado que, para a Via Campesina era fundamental construir um movimento sobre a justiça e uma ecologia mais sustentável, que pudesse influenciar nas decisões políticas, e Cancun era “um pequeno passo a mais” para isso.
“Esta vai ser uma longa luta, não vai ser numa cúpula que vamos resolver tudo. E então, com essa ideia, nós queremos sair de Cancún com aliados mais fortes, e nós também com mais consciência e mais força”, sentenciou.
Foto: Rádio Mundo Real
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