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12 de septiembre de 2011 | |

Por um palmo de terra

Uruguai: terras públicas vão parar em mãos de empresas sojeiras e não nas de produtores familiares

No Uruguai existem terras propriedade do Estado que, em tese, têm como objetivo promover o povoamento do campo. No entanto, tanto de forma explícita quanto encoberta, esses campos são explorados por empresas do agronegócio sojeiro e florestal, conforme depoimento de um produtor familiar do departamento de Paysandu.

Trata-se de Carlos Ariel Santos Silveira, que trabalha numa escola pública, é horticultor orgânico dedica e cria aves, embora a falta de terras forçou-o a deixar seus animais, que eram seu pequeno capital.
O Instituto Nacional de Colonização, encarregado no Uruguai de distribuir terras entre produtores familiares sem terra rejeitou o projeto de Carlos e sua família para ter um campo disponível nas imediações da cidade de Guichón.

“Há dez anos sou aspirante a colono e em 2001 fiz um projeto para dois anos para ter acesso a uma terra donde poder ampliar meus invernáculos e criar animais. Inclusive oferecia pagar o aluguel adiantado. Não sei o que acontece em nosso país: me rejeitaram esse projeto e em troca deram terras a pessoas que não são daqui e que produzem soja. Não estou contra aqueles que produzem, mas sim contra aqueles que tendo que controlar não o fazem”, disse Carlos à Rádio Mundo Real.

Embora a legislação que criou o Instituto Nacional de Legislação proíbe explicitamente o subalugar terras pertencentes à entidade estatal, Carlos conta que muitos destes “colonos” fazem isto e portanto recebem uma importante renda, sem trabalhar nem morar no campo.

A via que une a cidade de Paysandú com Guichón leva o nome de “Caminho dos Charrúas”. No entanto, a paisagem dista muito das terras que habitavam o povo originário ao estar literalmente repleto de cultivos forestales de eucalipto. Empresas transnacionais como Stora Enso e Arauco, além de investimentos de fundos de pensão de entidades uruguaias ocupam nessa região extensas áreas com monoculturas de eucalipto ou pinus, que além de outros problemas, provocam a propagação de predadores naturais como javali, que reduz os rebanhos ovinos da zona. Os moradores locais denunciam ainda que têm se dificultado o acesso à água para consumo humano e animal.

Os habitantes de Guichón têm sofrido em carne própria os efeitos dos “tratamentos” sobre essas milhares de hectares plantadas com árvores, muitas delas se realizam via aérea através de avionetas fumigadoras. Em 2010, uns cinquenta animais propriedades de pequenos pecuaristas morreram quando uma das aeronaves caiu e derramou conteúdo tóxico sobre pastos e riachos. A empresa responsável pelo “acidente” ocultou este fato e continua sem se responsabilizar pelas indenizações aos produtores, dizem os moradores.

Carlos insiste: “eu queria trabalhar de forma sustentável e não me dão terra. A soja envenena nossos campos e eles sim recebem terras. Como uruguaio que me sinto, defensor da minha terra, me pergunto, o que é que deixamos para nossos filhos? A soja é um pacote e ninguém o controla”.

Este produtor junto a outros aspirantes a contar com terras têm chamado às autoridades do Instituto Nacional de Colonização para contar-lhes esta situação. “Aqui perto, o povo de Algorta está em meio aos plantios (florestais) e caso houver um incêndio, pode acontecer qualquer catástrofe.
Estamos vendo o que acontece na Argentina, onde foram queimados milhares de hectares. O que pode acontecer com as pessoas que moram nesses povoados?”, pergunta o produtor.

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