Isto foi até 1974, quando a onda fascista que percorreu a América Latina, acabando violentamente com os sistemas democráticos, decidiu calar as vozes dissidentes, que enchiam pedaços de papel com idéias livres. Já nessa época, Benedetti era reconhecido como grande poeta e escritor; dentre suas obras más destacadas já estavam “A Trégua”, poemas como “Queimar as Naves”, e contos nos quais sua visão sobre o coitidiano dava brilho à rutina.

Os setenta foram os anos da perseguição, da caça, do exílio; e Benedetti, como fiel expoente de seu povo, não foi a exceção à regra. O compromisso de sua arte com o mundo que o cercava e sua militância, fez com que virasse alvo da ditadura. Deixou seu país em 1974, passando primeiro por Buenos Aires, onde a ditadura local também tentou matá-lo. Mas falhou, e o poeta conseguiu escapar da realidade que sofreram seus amigos próximos, como o político Zelmar Michelini, que foi crivado de balas do Plano Condor. Depois esteve por Lima, logo Havana, e sua viagem acabou em Madri. Longos dez anos de desenraizamento, de exílio, marcaram tanto seus olhos como sua escrita.

No domingo 17 de maio, três anos depois da morte de sua única esposa, companheira de toda a sua vida, Luz Alegre, a morte encontra Mario Benedetti. Há três anos o poeta tentava lutar contra a doença, e contra a solidão. Foi um lutador de toda a vida. Conosco ficam seus contos, romances, ensaios, poemas, aqueles que descansam sobre papel, e aqueles que acordam em vozes de recitadores e cantores; como seu compatriota Daniel Vigietti, o catalão Joan Manuel Serrat, ou algum outro desconhecido que o cita, que o traz de volta, fazendo deste um mundo um pouco melhor.

Mario Benedetti (1920-2009)