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30 de Outubro de 2012 | | | | | |

Não calarão nossa voz

“É inevitável ter medo quando se vive em um país altamente violento”

Karla Zelaya apoia as comunicações do Movimento Unificado Camponês de Aguán (MUCA), uma das organizações que lutam pela transformação agrária e a distribuição justa da terra em Honduras. Foi sequestrada em Tegucigalpa, a capital do país, dia 23 de outubro e conseguiu salvar sua vida. Mas lhe advertiram que ficasse calada.

“As ameaças começaram a partir do dia 22 de agosto, um dia depois de que cerca de 26 camponeses acompanhados pelo advogado Antonio Trejo, que já não está mais conosco, foram detidos arbitrariamente pelo simples fato de se manifestarem pelos direitos da população camponesa em frente a Suprema Corte de Justiça”, disse Karla em entrevista concedida pouco antes de ser sequestrada, com o correspondente da Rádio Mundo Real em Honduras, Francisco Molina*. “Recebi a primeira mensagem que dizia ’assim vão ficar todos os que falem como essa cachorra, cuidem-se’. Depois comecei a receber mensagens com ameaças constantes. Comentei isto aos companheiros do MUCA, e eles ficaram preocupados com a situação, logo fiz uma denúncia ao Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos em Honduras (COFADEH)”, acrescentou a comunicadora.

Cerca de 70 camponeses têm sido assassinados em Bajo Aguán nos últimos três anos, em um conflito agrário em que as organizações sociais acusam latifundistas e empresários de serem os responsáveis intelectuais, pelo menos, das ameaças, perseguições e assassinatos de trabalhadores rurais, geralmente realizados mediante matadores de aluguel.

Karla foi capturada perto de sua casa por três indivíduos, que foi colocada à força dentro de um carro, teve seus olhos vendados, e foi levada sem saber aonde. O objetivo do sequestro “express” foi perpetuar o terror através da tortura e o medo, com indagações sobre as ações do movimento camponês e seus dirigentes, conforme Francisco Molina. “Seu sequestro, somado às ameaças e assassinatos nas últimas semanas, é o reflexo de uma prática sistemática de violações dos direitos humanos, particularmente contra camponesas e camponeses”, afirma nosso correspondente em Honduras .

Karla está prestes a se formar em jornalismo, uma profissão que também tem sofrido a pressão e os embates do crime e o silêncio no país. Vinte e três jornalistas têm sido assassinados nos últimos três anos. Karla representa totalmente o papel de comunicador social. É uma mulher jovem e comprometida com as classes desapossadas de Honduras. Não é camponesa de nascimento, mas colheita a liberdade e a justiça do campo, ajuda a romper o cerco midiático e apoia as vozes do campesinato de seu país. Hoje em dia, aqueles que mantém a exclusão e as injustiças que atinjam 300.000 famílias camponesas querem seguir calando essas vozes.

“Não temos recebido nenhuma mensagem das autoridades para nos fornecer segurança. Nem o Ministério de Segurança, nem o de Direitos Humanos têm se comunicado conosco. Devemos tomar nossas próprias medidas para nos proteger”, lamentou Karla na conversa com Rádio Mundo Real. Com a indiferença do Estado hondurenho é bem mais fácil entender que os dirigentes ou ativistas ameaçados acabem sendo sequestrados, como aconteceu Karla, ou simplesmente assassinados.

Os comunicadores e sua obrigação de ajudar os desapossados

Karla nasceu e passou sua infância no departamento de Colón, para logo migrar para a capital e conseguir um melhor futuro, êxodo que é feito por milhares de habitantes da área rural de Honduras. A pobreza no campo desse país atinge 65 porcento. Karla nunca imaginou que voltaria à terra mais fértil do país, hoje controlada por grandes empresas agroexportadoras.

Conforme a ativista, os comunicadores têm a obrigação social de ajudar as pessoas. “Nós somos um meio para aquelas pessoas que não têm voz nem voto, para que possam ser ouvidas”, destacou. “Tenho bem claro os riscos que corro e sei que em qualquer momento pode nos acontecer algo. Aqui não há justiça, a maioria dos casos ficam na impunidade. Para as autoridades não existimos”, disse com certa resignação.

Karla fez uma denúncia ao Ministério Público com o objetivo de obter proteção e justiça. Se espera também que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), graças à ação da COFADEH, emita nos próximos dias medidas cautelares para que o Estado proteja a vida da comunicadora.

* Francisco Molina é integrante do Movimento Madre Tierra – Amigos da Terra Honduras.

Foto: http://lqs-loquesomos.blogspot.com

(CC) 2012 Radio Monde Réel

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