O que você vê é um arquivo histórico.
Pedimos voluntários para trabalhar com a nova tradução na web.
14 de Março de 2013 | Entrevistas | No al golpe de estado en Paraguay | Apropriação de terras | Anti-neoliberalismo | Direitos humanos | Lutadores sociais em risco
Baixar: MP3 (10.5 Mb)
Na madrugada da segunda-feira foram baleados por matadores de aluguel,os camponeses paraguaios Cipriano Flores e Asunción Acuña, habitantes do acampamento sem terra India Juliana, ubicado na companhia Ararupi, do distrito de Yuty, departamento de Caazapá.
Cipriano, de 17 anos, foi ferido de bala na boca, operado ontem e está em estado delicado no hospital da localidade de Encarnación, no departamento de Itapúa. Asunción tem três fraturas mas apois ser tratado recebeu alta.
“Os desprezíveis fatos aconteceram às duas da manhã, enquanto estavam realizando trabalhos de vigilância no acampamento, lugar onde foram atacados por duas pessoas, civis armados”, expressa uma denúncia pública da Organização de Luta pela Terra do Paraguai (OLT), que faz parte da Via Campesina desse país e da qual fazem parte os dois trabalhadores rurais baleados. No acampamento têm brigadas de trabalho, dentre elas as guardas de segurança. Cipriano e Asunción foram atacados enquanto trabalhavam e seus companheiros dormiam, antes de se revezarem.
“Os supostos autores materiais foram identificados como funcionários dos senhores Aldemar Bubans e Elenice Alles, donos da empresa Buchinger, que assumem a titularidade da fazenda N° 460, com 2.500 hectares aproximadamente”, acrescenta a denúncia.
No acampamento India Juliana moram cerca de 130 famílias com vários filhos, disse à Rádio Mundo Real a dirigente da OLT Esther Leiva, uma porta-vozes da denúncia pública. Há seis anos que está sendo ocupada a zona próxima à área em disputa. “Nós entendemos e temos os documentos de que há terra fiscal ali. Por isso exigimos (a terra)”, acrescentou na entrevista que realizada na terça-feira.
Leiva disse que os proprietários da fazenda pela via dos fatos são brasileiros, em sua maioria dedicados ao cultivo de soja, e disse que os habitantes do acampamento sem terra tem certeza de que os matadores foram contratados pelos fazendeiros. “Os companheiros têm toda a informação”, acrescentou, afirmando também que os camponeses organizados estão trabalhando com uma equipe de advogados, investigando a quantidade de pessoas que se definem como donos dessa terra.
O comunicado da OLT à opinião pública nacional e internacional explica que desde o início de 2012 a Comissão Vicinal sem terras de India Juliana faz gestões a favor das 130 famílias sem terras acampadas à beira da estrada, nos limites da área em disputa. Conforme denunciam os camponeses, têm sido fustigados de forma permanente por civis armados a serviço dos sojeiros brasileiros.
Os sem terra têm feito inúmeras gestões com o Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (INDERT), que é o encarregado da concessão de terras para as famílias que não têm esse recurso, mas não têm havido resultados positivos. “Falta vontade política”, denunciou Leiva, que responsabilizou especialmente o presidente do INDERT, Luis Ortigoza.
“Diante deste fato de brutal violência, pedimos às autoridades responsáveis que realizem a investigação dos fatos, levando à justiça os autores dos delitos de agressão, cumprindo com seu correspondente castigo e reparação de danos”, diz a denúncia pública da OLT. “Por omissão do Estado não queremos mais mortes camponesas por um pedaço de terra, um fato que se repete constantemente e que continua enlutando nosso país, pela única razão de exigir o direito à terra produtiva e a uma vida digna”, acrescenta o documento.
Leiva manifestou “preocupação” pela “grave” situação de acesso à terra no Paraguai, onde a posse do recurso em mãos de estrangeiros, principalmente brasileiros, prejudica os camponeses paraguaios.
“Se não plantamos não podemos viver, não podemos comer, porque não há apoio do governo. Estamos em uma situação gravíssima no acampamento, principalmente as crianças”, disse Leiva, afirmando também que para “os setores camponeses, não há justiça, não há garantia, não há nada”. “Não podemos viver assim. (...) Em troca, os brasileiros são privilegiados, os matadores são privilegiados”, lamentou.
A OLT fez um chamado a todas as organizações camponesas, sociais e populares para unir esforços e ficarem alertas diante de fatos de violência, que tem como objetivo calar a justa luta pela terra e a dignidade do povo paraguaio.
“Ratificamos que aqui tem que se fazer a reforma agrária integral. Nossa bandeira de luta é a reforma agrária. (...) Nós camponeses e camponesas precisamos terra para trabalhar e viver dignamente”, concluiu Leiva na entrevista com Rádio Mundo Real.
Rádio Mundo Real 2003 - 2018 | Todo material publicado aqui está sob licença Creative Commons (Atribuição - Compartilhamento pela mesma Licença). O site está construído com Spip, software livre especializado em publicações web... e feito com carinho.