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27 de Julho de 2010 | Informes especiales | Direitos humanos
Os responsáveis do assassinato da criança paraguaia Silvino Talavera, os empresários sojeiros Hermann Schlender e Alfred Laustenlager, estão livres, embora desde 2005 ambos têm uma condena de prisão de dois anos por homicídio culposo. A família de Silvino exige justiça.
Os Talavera-Villasboa pedem apoio nacional e internacional: “Hoje novamente, eu, Petrona Villasboa de Talavera, mãe de Silvino, e toda minha família, Juan Talavera (pai de Silvino), seus irmãos, Antonio, Norma, Darío, Ramón, Ignacio, Sofía, Justiniano, Patricia e Silvino Merced Talavera Villasboa, fazemos um chamado de solidariedade a todas as pessoas, a organizações do Paraguai e de todos os países do mundo que se sintam indignados e sejam lutadores pela vida”.
A família tem em processo uma ação civil contra Schlender e Laustenlager e a transnacional Monsanto, na qual pedem uma indenização por danos e prejuízos.
No dia 7 de janeiro de 2003 Silvino, com 11 anos, morreu intoxicado por agrotóxicos usados nos plantíos transgênicos de Schlender e Laustenlager na localidade paraguaia de Pirapey, departamento de Itapúa. Silvino foi diretamente fumigado, enquanto voltava do açougue. Sua irmã Sofía, também intoxicada ao comer a carne, sobreviveu.
Juan Talavera contou à Rádio Mundo Real os fatos que levaram à morte de seu filho. Silvino teria chegado a sua casa do açougue com muito suor e coceira, deixando a carne com sua irmã para que ela a cozinhasse. No dia seguinte Silvino continuava sentindo-se mal e sua mãe levou-o para um hospital. Um par de horas após ter chegado no centro de saúde Silvino morreu.
Schlender e Laustenlager foramn condenados a uma pena mínima de dois anos de cadeia por homicidio culposo e produção de riscos comunes num primeiro julgamento realizado em 2004. Mas os empresários reccorreram da sentença e ela foi anulada pela Corte de Apelações. Mas a família de Silvino pediu um novo julgamento penal que foi realizado em forma oral e pública em 2005. A sentença foi a mesma que a anterior, mas até hoje nenhum dos processados passou pela cadeia.
Petrona expressa a dor de sua família: “O julgamento penal já acabou. Eles têm que ir custe o que custar para a cadeia, mas não vão, estão em sua casa. A verdade é que aqui no Paraguai, a justiça não existe”, disse Petrona. “Estou muito destroçada, nós já não temos nada mais, nem animais nem nada porque gastamos muito. Levamos oito anos de luta. É muito duro para mim”, acrescentou a camponesa.
O chamado à solidariedade internacional, a família Talavera – Villasboa intitulado “Silvino Talavera vive”, pede que pessoas e organizações enviem cartas de apoio ao Juízado responsável e o próprio Poder Judicial paraguaio, bem como a diversos veículos de imprensa nacionais.
Petrona explicou por que nesta ação civil apresentada por sua família aparece também a Monsanto, empresa de origem estadunidense que é proprietária da soja transgênica RR e do herbicida glifosato, utilizado para essa variedade.
Esta nova ação civil contra Schlender e Laustenlager começou há um ano, e é também contra a Monsanto Paraguai, porque a familía considera a empresa responsável. “Tinham que resolver o caso em dez meses, mas está arquivado e ainda não tem se resolvido nada”, acrescentou a mãe de Silvino.
Em 2003, o glifosato ainda não estava legalizado no Paraguai e entrava ao país como contrabando. Segundo Petrona, Monsanto tem reconhecido sua responsabilidade no caso, mas seus advogados argumentam que já passaram os dois anos depois da morte de Silvino e que, portanto, a demanda não é válida.
A família de Silvino tem diversos problemas de saúde por estarem expostos continuamente às fumigações com agrotóxicos, pão de cada dia num país onde a soja transgênica tem avançado agressivamente. Os rmãos e pais de Silvino têm sofrido problemas pulmonares, estomacais, alergias, dor de cabeça e ossos, entre outros, e precisam tratamentos médicos que não podem pagar.
Além disso, a família sofre outras consequências do modelo sojeiro e agroexportador do país. Têm sido ameaçados e pressionados para que abandonem os julgamentos. Um tio de Silvino, Serapio Villasboa, foi sequestrado e assassinado, e Sofía, que salvou sua vida em 2003, viu a morte de seu próprio filho, atingido pelos venenos que ela tinha em seu sangue.
Uma realidade angustiante de uma familia que continua lutando após sete anos difíceis: “Nós pedimos a indenização porque nós já gastamos tudo, não temos nada, nada. A realidade é que perdi tudo, perdi meu filho Silvino e perdi todos meus filhos, porque todos estão doentes, precisam de tratamentos, medicamentos. E para isso nós pedimos essa indenização, para que meus filhos tenham atenção médica”.
A justiça paraguaia, adormecida e cúmplice, mantém impune o assassinato de uma criança por causa da avareza empresarial. Porém, ainda está a tempo de dar alguma resposta e dar paz a uma família camponesa que tem sofrido algo inimaginável. Antes tarde do que nunca.
Foto: http://www.rap-al.org
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