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4 de Outubro de 2010 | Notícias | 3º Encontro Internacional de Atingid@s pelas Barragens | Justiça climática e energia
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Entrevista com Raquel e María de Jesús, filha presente e filha ausente em Temacapulín respectivamente, povoado do Estado mexicano de Jalisco ameaçado pela construção da mega barragem, El Zapotillo.
Raquel Jáuregui tem 20 anos e assegura que seus netos vão conhecer o solo habitado por seus ancestros há décadas imemoriais.
Há cinco décadas María del Jesús foi embora do povoado para Guadalajara.
“Por conveniência, porque minha querência continua estando aqui, em meu povo, que nunca abandonei”, diz em seu jardim, sem ocultar o orgulho por sua horta, onde florecem milhos que logo serão tortilhas para alimentar netos e sobrinhos que vêm visitá-la e a desfrutar deste solo de paz e bem viver no México camponês.
Raquel e María del Jesús, duas mulheres envolvidas há cinco anos na luta desta comunidade contra o projeto que quer sepultar sob água a população. Uma, olha para o futuro onde está tudo está por ser feito. A outra inculca a seus descendentes o amor a sua mãe terra: “o que vale a pena na vida sempre é difícil”, diz Maria.
Estas duas pontas de um só laço vital se unem na rebeldia frente à prepotência empresarial, promovida por políticos e a justificação de certos círculos eclesiásticos. María del Jesús lembra uma estrofe do Hino Nacional mexicano que promete “um soldado em cada filho” se o solo pátrio for manchado por agressores, e não esquiva a conclusão: “estamos aqui”. São as soldadas de Temaca.
A jovem Raquel se horroriza com as notícias que vêm de fora de Temaca: violência doméstica e sexual contra as mulheres, estupros, delinquência, abandono. “Não conhecemos isto em Temacapulín”, diz e lembra quando, estando no segundo grau, com quinze anos, ouviu por primeira vez sobre a barragem.
Para María del Jesús, o caso de Temacapulín e outros similares em Estados como Oaxaca o Chiapas fazem com que a parafernália dos festejos do Bicentenário da Independência seja “letra vazia”. São 200 anos desde então, e cem desde que Emiliano Zapata levantasse o lema “não ao desapossamento” que parece tão vivo nestes dias em Temacapulín.
“Se esta terra nos pariu, pois então é nossa Mãe... e não creio que alguém goste que mexam em sua Mãe”, diz María sem deixar de se surpreender pela caravana de australianos, cambojanos, europeus e latinoamericanos que inundaram a tranquila Temaca para participar do Encontro Internacional.
Em outro trecho do diálogo com Rádio Mundo Real, María comenta como sua imaginação e até sua fé foram superadas pelas amostras de solidariedade recebidas nestes cinco anos de luta contra El Zapotillo, onde está sendo realizado o 3º Encontro Internacional de Atingidos e atingidas pelas Barragens e seus Aliad@s.
Foto: Rádio Mundo Real
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