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30 de Novembro de 2010 | Entrevistas | Justiça climática e energia | COP 16
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Começaram na segunda-feira em Cancun, México, as negociações oficiais da XVI Conferência das Partes (COP) das Nações Unidas (ONU) sobre Mudança Climática, em meio a um clima de incerteza e preocupação tanto em nível governamental quanto da sociedade civil, pelo agir do governo local e dos países mais poderosos do planeta.
O fantasma da COP XV de Copenhague, que ficará na memoria por seu “acordo” promovido a escondidas e na madrugada por um grupo de países liderados pelos Estados Unidos, percorre Cancun.
O embaixador da Bolívia para as Nações Unidas, Pablo Solón, não perdeu tempo na segunda-feira. Na abertura das tratativas disse que “deve-se preservar a regra do consenso” e garantir que “nunca mais hajam reuniões de grupos por fora do que estipula a Convenção”. Disse que deve se evitar “que se repita o que aconteceu em Copenhague”.
Na COP XV da Mudança Climática nessa cidade dinamarquesa, em dezembro de 2009, os Estados Unidos negociaram com alguns países e a portas fechadas o “Acordo de Copenhague”, por fora do marco multilateral próprio da ONU. O documento foi apresentado após o plenário, mas não foi incluído como um consenso justamente porque não passou pelo devido processo negociador. De todas as formas, a ONU “tomou nota” desse “entendimento”, como preferem chamá-lo os movimentos sociais.
Já em 2010, o texto foi enviado a todos os países e dezenas deles decidiram apoiá-lo. Contrário a vontade da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, o documento não impõe reduções legais de emissões aos países industrializados e apresenta cifras de financiamento climático absolutamente insuficientes, dentre várias outras.
A mesma preocupação do embaixador boliviano na ONU surgiu na rodada de imprensa realizada na segunda-feira pela federação ambientalista Amigos da Terra. O ativista Domingo Lechón, integrante de Otros Mundos – Amigos da Terra México, disse ali que seu governo tem dito que tentará fazer com que não se repita a experiência “anti-democrática” dinamarquesa. “Mas esperamos que isso cumpra-se nos fatos”, indicou.
Enquanto isso, a ex-presidenta da Amigos da Terra Internacional, Meena Raman, integrante da Amigos da Terra Malásia e integrante da Rede do Terceiro Mundo, também destacou na conferência a preocupação dos movimentos sociais. Qualquer negociação deve ser nos marcos da ONU e não através de encontros paralelos, explicou.
Em diálogo com Rádio Mundo Real, a ambientalista disse que tem sido muito difícil, após a conferência de Copenhague restabelecer a confiança no processo negociador. Acrescentou que, além de tudo, os Estados Unidos e a União Europeia não estão tomando a liderança devida, para enfrentar a mudança climática. Japão e Rússia, enquanto isso, diretamente querem acabar com o Protocolo de Kioto, instrumento legalmente vinculante que estipula reduções de emissões obrigatórias para os países industrializados.
Raman contou a Rádio Mundo Real que os países em desenvolvimento, principais atingidos pela crise do clima, estão muito preocupados pela falta de ambição dos estados do Norte especialmente no que diz respeito a cortes de emissões contaminantes. Nem sequer têm compromissos de reduções mas promessas, disse a ativista. Esclareceu que se forem contados os “vazios” que deixa o mercado de carbono e as compensações de emissões, por exemplo, os números de cortes apresentados pelos países industrializados os levariam inclusive a aumentar suas emissões 6 porcento, em comparação com os valores de 1990.
Raman lamentou ainda que os estados ricos estejam enganando a população mundial com as cifras de financiamento climático que têm, porque estão usando fundos da ajuda ao desenvolvimento para apresentá-los como fundos para o clima. Finalmente a ativista garantiu que são muito importantes as mobilizações nas ruas de Cancún para pressionar os governos, assim como o apoio à administração da Bolívia, que está tendo um papel muito importante, conforme disse.
Foto: Rádio Mundo Real.
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