O que você vê é um arquivo histórico.
Pedimos voluntários para trabalhar com a nova tradução na web.
6 de Dezembro de 2010 | Notícias | Justiça climática e energia | COP 16
Baixar: MP3 (6.8 Mb)
O papel do Brasil nas negociações da COP 16 de Mudança Climática de Cancun é considerado “contraditório” pela organização ambientalista Núcleo Amigos da Terra (NAT) Brasil, que segue de perto o processo, enquanto participa também das atividades paralelas.
O gigantesco país sul-americano tem apoiado posições progressistas na primeira semana da COP, principalmente dos países da Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), que defenderam o Protocolo de Kioto.
Ao mesmo tempo, Brasil aceita o mercado de carbono, que tem feito surgir mecanismos técnicos que permitem que os países industrializados se livrem de suas obrigações de redução de gases contaminantes, através do que se conhece como “compensação” de emissões. O Brasil tem posições muito perigosas na questão do financiamento climático, resume NAT – Amigos da Terra Brasil.
Rádio Mundo Real entrevistou na COP, Lucia Ortiz, integrante da organização ambientalista. A ativista considerou que “o papel dos países em desenvolvimento é fundamental para bloquear qualquer mal acordo nesta conferência”, e disse que é preciso que o “Brasil seja mais pró-ativo” nesse sentido. De todas as formas, Ortiz reconheceu e destacou o apoio de seu país aos países da ALBA.
Os países desse bloco anunciaram na sexta-feira em rodada de imprensa que algumas nações desenvolvidas (Japão confirmada) haviam dito em reunião informal a portas fechadas da COP, que não há nenhuma chance de que nesta conferência seja negociado um segundo período de compromissos dentro do Protocolo de Kioto (2013 – 2017).
Os representantes oficiais da Bolívia, Venezuela, Nicarágua, Equador e Dominica alertaram na rodada de imprensa que se esta posição dos países desenvolvidos continuava, a ALBA não estava disposta a negociar nenhum outro tema nestas negociações.
“O Brasil fez um movimento bem interessante de apoiar os outros países em desenvolvimento, principalmente os países da ALBA, chamando que esta conferência não vai ter nenhum sentido, caso não se comprometa com esse segundo período do Protocolo de Kioto”, disse Lúcia, coordenadora para América Latina do programa de Justiça Climática e Energia da Amigos da Terra Internacional.
Antes disso, no começo da semana passada o presidente brasileiro Luiz Inácio "Lula" da Silva havia dito publicamente que não compareceria a conferência de Cancun porque não haveria nenhuma resolução importante.
Para Lúcia, após esse começo, que teve um forte impacto, o Brasil teve uma atitude “de baixo perfil, muito calado, muito queto”. Alguns setores da sociedade civil brasileira indicam que o governo se movimenta com cautela para evitar conflitos no processo rumo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável ou “Rio + 20”, em maio de 2012, no Rio de Janeiro.
De todas as formas, rapidamente o Brasil voltou à cena, defendendo o segundo período de compromissos de Kioto. O primeiro período termina neste ano (2008 – 2012) e os países deveriam estipular as reduções de emissões para o segundo período, entre outras coisas, o que está longe de ser atingido, já que deve haver um tempo para que os parlamentos ratifiquem os acordos.
Mesmo assim, em outros temas, as posições do Brasil preocupam, conforme Lúcia. “O Brasil tem posições muito perigosas, por exemplo, na questão de financiamento climático”. A ambientalista frisou que o Brasil não se coloca contra o manejo do Banco Mundial dos fundos do clima, para adaptação e mitigação no Sul global. “Além disso, desde Copenhague (COP 15 de dezembro de 2009) o Brasil mudou a sua posição contra a expansão dos mercados de carbono. E tem uma posição muito difícil de entender, porque diz que é contra a compensação, mas não é contra os mercados de carbono”, acrescentou. É justamente no mercado de carbono onde se concretizam as compensações de emissões, com a compra de créditos ou bônus do Norte, gerados em projetos no Sul global.
Lúcia considera que com estes projetos “não há reduções de emissões reais. Isso só, de fato, cria mecanismos de flexibilidade, de subterfúgio para não atacar o que se tem que atacar, que são as mitigações (reduções de emissões) dos países historicamente responsáveis”.
Na mesma linha, a coordenadora de Justiça Climática e Energia da Amigos da Terra lembrou também que o Brasil possui um grande interesse no mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação das florestas nos países em desenvolvimento (REDD). Afirmou que as negociações sobre o mecanismo não têm avançado muito, e alertou sobre possíveis tratativas que possam acontecer por fora do marco multilateral para logo ser impostas ao plenário.
A ativista destacou a importância dos países em desenvolvimento para o processo das negociações em Cancun e pressionar por acordos justos. “Como Amigos da Terra estamos trabalhando no monitoramento desses países em desenvolvimento, que são chaves para mudar o balanço das negociações em termos de poder; afinal a maioria dos países defendem interesses das corporações e não dos povos”.
A ambientalista destacou, o movimento internacional por justiça climática, reunido agora em Cancun, e o “Acordo dos Povos” da Cúpula de Mudança Climática de abril de 2010 em Cochabamba, Bolívia. “Não queremos mais ’Copenhagues’”, manifestou Ortiz, referindo-se ao acordo anti-democrático e contrário ao Protocolo de Kioto firmado nessa cidade na COP 15. “Dizemos sim à Cochabamba”, concluiu.
Foto: Rádio Mundo Real
Rádio Mundo Real 2003 - 2018 | Todo material publicado aqui está sob licença Creative Commons (Atribuição - Compartilhamento pela mesma Licença). O site está construído com Spip, software livre especializado em publicações web... e feito com carinho.