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18 de Maio de 2010 | |

Construindo de baixo para cima

Começa em Brasília encontro de organizações pela terra face à consulta da FAO

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Camponeses, indígenas, quilombolas e mulheres elaboram suas propostas para uma reforma agrária na América Latina, rumo à soberania alimentar.

Cerca de 120 organizações sociais, de camponeses, assalariados rurais e de mulheres trabalham a partir desta segunda-feira na capital brasileira num encontro que estabelecerá as pautas e diretrizes voluntárias sobre a posse da terra e recursos naturais a serem apresentadas à Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO, na sigla em inglês).

A reivindicação de uma reforma agrária integral que inclua e supere a distribuição massiva de terras, uma mudança de matriz tecnológica face a atingir uma verdadeira soberania alimentar, a educação no meio rural e a instalação de agroindústrias auto-gestionadas, foram alguns dos conceitos que no primeiro trecho das atividades foram estipulados como objetivos centrais a serem desenvolvidos.

O evento denomina-se Conferência Regional de Organizações Sociais, Movimentos sociais e ONGs sobre Diretrizes Voluntárias para a posse da Terra e os Recursos Naturais e se realiza na sede da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura do Brasil (CONTAG).

A abertura do evento foi realizada pelo presidente dessa organização local, Alberto Broch, a representante da Coordenadora Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC-Via Campesina), o Ministro de Desenvolvimento Agrário do Brasil Guilherme Cassel e o Coordenador do Comitê para a Soberania Alimentar para América Latina, o chileno Mario Ahumada.

Após três dias de deliberações, os delegados provenientes de 20 países vão elaborar um documento que será apresentado como posição política e propostas concretas dos movimentos sociais na conferência consultiva de FAO que acontecerá no Itamaraty.

Nos discursos de abertura destacou-se a atual ofensiva do capitalismo para o controle e a exploração dos recursos naturais, a terra e a biodiversidade. Pelo que se entende que os alcances desta temática superam em muito a simples “questão camponesa”.

A representante da CLOC e do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra destacou que o próprio organismo internacional convocou para uma assembléia para reconhecer a existência de um bilhão de pessoas sofrendo fome no mundo o que responde, para ela, às políticas e o modelo de agricultura e desenvolvimento imposto pelo sistema capitalista.

Por sua vez, o representante do governo brasileiro disse se sentir entre “camaradas” e expressou que estas instâncias estão no contexto de uma “elaboração de uma agenda pós-neoliberal” onde se estipulam as metas dos povos para seu desenvolvimento e superação do capitalismo. Para ele, tem se deixado definitivamente para trás o paradigma neoliberal, especialmente na América latina.

Por sua vez, Mario Ahumada destacou a importância de ter atingido uma verdadeira participação das organizações como forma de influir nas ações da FAO, para o que também estarão sendo realizadas consultas no continente africano (Burkina Faso) e na Europa (Roma).

Ahumada indicou que o problema da fome no mundo não responde à produção em si de alimentos, mas sim em como se produz e como se distribui em nível mundial dessa produção.

(CC) 2010 Radio Monde Réel

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