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4 de Janeiro de 2011 | |

Comunicação na agenda política

Entrevista com Osvaldo León, diretor da Agência Latino-americana de Informação (ALAI): comunicação para as mudanças

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A aprovação de leis vinculadas ao direito à comunicação ou pelo menos o interesse de debater como são produzidos os conteúdos de comunicação em países da América latina, o papel do Estado e das comunidades nessa elaboração, apresenta em contrapartida a necessidade para as mídias alternativas, opostas as políticas neoliberais e vinculadas aos movimentos sociais, o desafio de fortalecer o tecido de intercâmbios e colaborações mutuas.

Os aspectos referentes a comunicação tem penetrado nas agendas oficiais dos estados latino-americanos por uma razão obvia embora silenciada: a comunicação é um componente fundamental da democracia e portanto ela não pode ser deixada sem crítica, em mãos de grandes grupos econômicos.

Foi o que afirmou à Rádio Mundo Real o jornalista Osvaldo León, diretor da Agência Latino-americana de Informação (ALAI) ao falar sobre alguns pontos importantes da luta pela democratização da informação no continente.

“Para poder participar de uma democracia de qualidade, uma condição previa é estar devidamente informados”, considera Osvaldo León.

Sinais de alerta

Mesmo que para coletivos de comunicadores, mídias alternativas e movimentos sociais, os preceitos mencionados anteriormente estejam claros há muito tempo, uma série de fatos recentes ressaltou a importância delas, mas ao mesmo tempo acendeu alguns sinais de alerta sobre pontos frágeis.

Osvaldo León considera que, na medida em que o debate de alguns assuntos, tem deixado de acontecer em praças, universidades ou centros sociais, para se reduzir a um set de televisão “já não estamos diante de teses em debate, mais sim diante de marketing político que equivale a que seja a mesma coisa vender um sabão em pó que um presidente”.

O partido político que antes tinha o papel de intermediação entre o Estado e a sociedade tem sido substituído pelas empresas multimidiáticas que estão longe de ser neutras, afirma o diretor da ALAI. “A mídia passou de ser o ’cão guardião’ contra o poder, para hoje fazer parte desse mesmo poder” e portanto vão defendê-lo com todas as suas ferramentas simbólicas e econômicas, diz León.

No entanto considera que a acumulação de governos com características contrahegemônicas -mesmo que com divergências- na América latina, têm demostrado que essas cortinas midiáticas não são infalíveis. Por exemplo, a presidenta brasileira Dilma Roussef “jamais poderia ter chegado a vencer, se dependesse das mídias monopólicas brasileiras que claramente se opuseram a ela”.

Para Osvaldo León, as situações críticas como a hecatombe econômica e social na Argentina, o golpe de Estado contra Hugo Chávez em 2002 ou quando foi deposto o presidente constitucional hondurenho José Manuel Zelaya, são aquelas que deixam revelam essa luta entre as mídias empresariais aliadas ao status quo e as redes de comunicação alternativas.

Simultaneamente são reveladas suas fragilidades, que muitas vezes atuam de forma descoordenada.

“No caso de Honduras, com um mínimo de planificação (entre mídias alternativas) a tarefa de difusão do que realmente estava acontecendo ali, teria sido mais efetiva”, diz Osvaldo León. E propõe responder à lógica de concentração e convergência que prevalece no mundo midiático empresarial com a lógica de redes das mídias alternativas.

As novas tecnologias permitem incorporar os aspectos relacionais da comunicação, gerando novos fluxos, o que não significa ser um site mais da rede de redes, mas aproveitar a riqueza dos coletivos sociais, suas agendas, prioridades e linguagens para enriquecer a comunicação não empresarial.

Sem impor agendas

Após vários dias de intercâmbios e debates, um amplo conjunto de mídias-eletrônicas e convencionais- de vários países da América Latina convocadas pela ALAI e com patrocínio da UNESCO relançaram um espaço aberto para coordenar trabalhos de coberturas, acompanhamento de temas e movimentos sociais da região e aprofundar na capacitação mutua em comunicação.

“Não é uma questão de impor agendas, se fosse assim, estaríamos agindo como as empresas midiáticas do capital”, considerou León. Cada uma das mídias deste espaço e aqueles que estão convocados a se somar provêm de alguma ou outra forma de processos próprios vinculados aos movimentos sociais, pelo que o objetivo é identificar temas comuns que permitam unir esforços sem diminuir a riqueza de matizes e ênfases.

Lições para levar em conta

Por último, a conversa de Rádio Mundo Real com Osvaldo León foi sobre as experiências dos diferentes governos latino-americanos com intenções de mudança e seu relacionamento com os grupos empresariais midiáticos.

Embora em vários casos, no início houve “pactos” de não agressão, adiando ou impedindo a consagração de regulações que transparentem o espaço comunicacional tendendo a sua desconcentração, “no médio prazo há uma aprendizagem com golpes” sobre como fomentar a comunicação alternativa, popular. “Na Venezuela, por exemplo, havia prevalecido a opção de negociar com o mais poderoso, o magnate Cisneros” e logo, suas mídias se transformaram em plataforma principal da tentativa do golpe.

Portanto, os partidos políticos e organizações sociais vem tendo mais clareza sobre a importância da comunicação própria, independente do capital, mas comprometida com os processos de transformação social.
As “alianças” circunstanciais com grupos midiáticos têm demostrado ser uma arma de duplo fio que acaba em momentos em que se disputa o rumo histórico dos processos.

Aprender dessas lições sob a ameaça de um retrocesso conservador grave no continente, também é o objetivo deste espaço de coordenação entre mídias, considera Osvaldo.

Foto: http://elpregon.org

(CC) 2011 Radio Monde Réel

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