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17 de Março de 2011 | | |

As mesmas causas

Impunidade e violência contra camponeses: entrevista com Daniel Pascual, Vía Campesina Guatemala

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O desalojamento massivo e violento iniciado na terça-feira 15 no norte da Guatemala de cerca de 800 famílias camponesas de campos improdutivos propriedade de uma empresa açucareira reativou a dura realidade que vive esse país centro-americano do ponto de vista dos direitos humanos, a posse e uso da terra e a soberania alimentar onde as causas que geraram o conflito armado na década de 70 permanecem intocáveis.

Foi o que refletiu em entrevista com Rádio Mundo Real do Valle de Polochic, departamento de Alta Verapaz ao norte da Guatemala, Daniel Pascual dirigente do Comitê de Unidade Camponesa da Guatemala (CUC-Via Campesina).

Na terça-feira, durante o desalojamento de duas das quatorze comunidades aí assentadas se registrou a morte de um jovem camponês e dezenas de feridos a Polícia Civil, o Exército e bandos de civis que por sua vez revistem na empresa Chabil Utzaj que exige a propriedade dos campos.

Daniel indica que os desalojamentos massivos ocorrem permanentemente em todo o mapa guatemalteco, onde atualmente existe cerca de uma centena de ocupações de terras: “é uma clara manifestação da necessidade de que deve haver uma reforma agrária na Guatemala”, indica Daniel Pascual.

Condições objetivas e impunidade

Fome, desemprego, migração do campo para a cidade representam as dolorosas condições objetivas para o debate sobre a conflitividade agrária e a implementação de uma reforma agrária na Guatemala, caso contrário ocorrerão estes fatos de violência já que, não existem, para o dirigente, organismos no Estado que zelem pelos direitos das famílias atingidas.
Por causa do caso do Valle de Polochic compareceram ao lugar dois funcionários do escritório do Alto Comissário dos Direitos Humanos o que, segundo Daniel Pascual, permitiria uma investigação mais profunda dos acontecimentos e de seus responsáveis. Essa presença, bem como as denúncias internacionais realizadas, poderiam evitar novos atos de violência quando ainda ficam na área dez comunidades.

Enquanto era feito o desalojamento, as comunidades estavam negociando com a empresa e as autoridades de governo sobre o destino dessas terras. As negociações foram atropeladas por uma decisão judicial a favor dos latifundistas.

Daniel Pascual indica que situações como as do Valle de Polochic fundam-se numa situação de extrema desigualdade, que coincidem com aquelas permitiram o conflito armado que abateu o país. “As raízes que originaram o conflito armado não foram resolvidas, temos situações graves de crime organizado e de fato o número de mortos por essas causas têm superado os gerados no conflito armado”, indicou. “São os mesmos latifundistas que usaram a estratégia contra-insurgente os que têm uma atitude totalmente irracional nestes desalojamentos”.

O auge dos agrocombustíveis de cana e palma africana, destaca Daniel Pascual, tem significado um novo impulso das empresas e latifundistas para negar o direito de acesso à terra dos camponeses do país.

Foto: www.prensalibre.com

(CC) 2011 Radio Monde Réel

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