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26 de Agosto de 2010 | Notícias | Anti-neoliberalismo | Soberania alimentar
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No departamento uruguaio de Canelones, organizações sociais têm apresentado uma proposta às autoridades para criar uma zona de exclusão para cultivos transgênicos, abrindo um debate necessário.
O território de Canelones é um dos mais povoados do meio rural uruguaio, com uma baixa média quanto à área ocupada pelas explorações produtoras de alimentos, a maioria de caráter familiar.
Sobre a bacía do rio Santa Lucía (fonte de água potável da capital nacional), Canelones é um território de produção variada e de cultura camponesa.
Por estes motivos, a “aterrisagem” dos cultivos transgênicos, particularmente da soja resistente ao herbicida glifosato, gerou várias reações nas comunidades de pequenos camponeses e agricultores familiares.
Os problemas relacionados a este cultivo já haviam se manifestado anteriormente. Em 2008, uma avioneta fumigou glifosato muito perto de zonas povoadas de Totoral del Sauce, densamente povoada e de produções intensivas, atingindo crianças de uma escola e moradores.
O fato foi denunciado nas mídias locais e às autoridades locais e nacionais, pelo que as fumigações foram detidas. No entanto, entre 2008-2009 começaram os preparativos para o plantío de cerca de 400 hectares de soja transgênica nas proximidades da cidade de Sauce.
A comunidade -composta por hortifruticultores de pequena escala- reagiu, se informou sobre os efeitos no ambiente e nas pessoas, e muitos dos que haviam arrendado seus campos, voltaram atrás.
A pressão social foi muita e finalmente a soja não foi cultivada. Mas ficou claro que, se não fosse por um regulamento específico em nível nacional ou municipal, nada podia deter uma empresa local ou estrangeira de realizar esses cultivos.
No entanto, a preocupação foi além dessa zona e soube-se do nefasto efeito do cultivo de soja sobre as comunidades humanas, o solo, a biodiversidade e a água em outros pontos do território de Canelones.
Tudo isso acabou na criação de uma Comissão Especial Assessora com moradores, vereadores e integrantes de diversas direções da Comuna (Prefeitura) Canaria que trabalharia sobre o tema e estipularia critérios e recomendações às autoridades locais.
Dali surgiu a decisão de proibir as fumigações aéreas em todo o território de Canelones . A Comissão Assessora sugeriu, então a necessidade de estipular uma zona de exclusão para cultivos geneticamente modificados a modo exemplificador, na região sul de Canelones.
Depois de quase dois anos de consultas, a Comissão Assessora decidiu enviar essa recomendação, o que provocou fortes pressões no governo do departamento, feitas de diversos setores, direta ou indiretamente vinculados ao agronegócio.
A “preocupação” pela possível zona de proibição de cultivos OGM não tem tanto a ver com que se perdam grandes áreas para este cultivo, mas pelo contrário, com a possibilidade de que a decisão comunal se transforme num precedente a ser utilizado em outras zonas do país, onde a expansão acelerada desta monocultura tem gerado problemas muito mais sérios.
Hoje em dia, no Uruguai as monoculturas de soja transgênica e o florestamento ocupam cerca de um milhão de hectares cada uma, mudando drasticamente a paisagem produtiva, o uso da terra e especialmente a disponibilidade de água em algumas regiões do país que não se auto-abastecem nos períodos de verão.
Vários países europeus têm criado zonas de exclusão de cultivos transgênicos, entre eles Espanha, Alemanha e França.
A ação dos habitantes de Canelones preocupados pela sustentabilidade de sua vida e a de suas famílias no campo tem tido um primeiro efeito: instalar um debate do território sobre um tema central e pouco discutido publicamente.
Imagem: 5preguntas.blogspot.com
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