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7 de octubre de 2014 |

A Terra como objeto concreto

Uma contribuição do Oriente para pensar a Ecologia

André Guerra - Amigos de la Tierra Brasil

KANDY, SRI LANKA – Entre os dias 30 de setembro e primeiro de outubro, em Kandy, no Sri Lanka, foi realizada a “Conferência internacional sobre o papel das comunidades na tomada de decisão ambiental”, tendo como um dos focos a construção do conceito Democracia Ambiental, um desdobramento significativo, amplo e inclusivo da perspectiva democrática. A conferência foi uma prévia da assembleia internacional bianual da federação de organizações ecologistas Amigos da Terra Internacional, que ocorrerá no país.

Já na sessão de abertura, uma interessante proposta: representantes de quatro religiões expuseram a questão dos direitos ambientais na perspectiva de cada uma de suas respectivas crenças. À primeira vista soou curioso que o debate ambiental seria iniciado por contribuições vindas de tradições mais ou menos exóticas para o ocidente como a budista, a hindu, a muçulmana e mesmo a perspectiva cristã desde um enfoque oriental.

Kalupahana Piyarathana Thero – coberto com um característico manto bordô – iniciou sua fala mansa dizendo que na perspectiva budista o ser humano não é nada mais do que um produto da natureza. Nesse momento ficou fácil até para a lógica de um ocidental compreender que, assim como no oriente não há a separação entre sociedade e natureza, também a religião não passa de outra face da filosofia.

Na verdade, quem sabe a palavra “religião” tenha sido demasiadamente massacrada no ocidente, a tal ponto que é possível ter dúvidas ao referir o mesmo termo para discutir a sabedoria com que, por exemplo, o Vedda hindu, Kalupahana Piyarathana Thero, expressou que, para o hinduísmo, todas as criaturas animadas ou inanimadas são formas da manifestação de deus e que, portanto – com relação ao que diz respeito aos seres humanos – só nos compete tornar o mundo um lugar mais bonito, uma vez que, através da beleza, as formas elementares podem se manifestar em sua plenitude. Obviamente o conceito de beleza apresentado por ele ultrapassa uma supérflua idolatria da forma. Nessa perspectiva, o ser humano transcende a si mesmo quando deposita seu ser em experiências estéticas, sejam elas esculturas, artesanatos ou pinturas, sejam elas cantos, rituais ou danças. Mas essa é uma discussão muito mais complexa do que seria seguro iniciar agora.

A busca por uma vida completa também é a proposta do islamismo. A religião extrai do Corão os elementos de uma filosofia que entende como propósito da existência humana nada mais do que prolongar e expandir a vida; tornando, portanto, a proteção da Terra uma condição absoluta e primeira.

A partir de uma perspectiva oriental, até o cristianismo ganha novas cores aos olhos ocidentais. O representante da religião predominante no ocidente fez questão de pontuar uma importante controvérsia que coloca o cristianismo como sendo uma religião em que o homem domina o meio ambiente a partir da autoridade concedida por deus. Ele diz que a questão é completamente diferente: o correto seria que, ao contrário, os homens e mulheres são servidores da Terra, não seus governantes.

Incontestavelmente, o oriente atribui aos representantes de suas religiões um papel bastante diverso daquele assumido pelos ocidentais, ao menos em grande parte do ocidente. Desde uma perspectiva oriental, estes são sábios que têm acesso a um repositório de saber transmilenar e que podem contribuir para iluminar os caminhos durante as curvas dos obscuros limites da razão. Além disso, essa perspectiva tem interessantes reflexões que ajudam a recolocar no centro do debate humano o estudo da nossa grande casa, ou seja, a Ecologia; não uma ecologia qualquer, mas uma eminentemente política.

A preocupação com a Terra, não como metáfora, mas como objeto concreto, destaca-se como fundamental porque a constatação da necessidade de uma existência sustentável só tem valor caso, simultaneamente, considerarmos seriamente que não há sustentabilidade possível fora do único planeta que temos e a partir do qual nós tornamo-nos o que somos. E mesmo se houver uma tal possibilidade alternativa, essa ainda parece ser uma realidade que continuará inviável por mais tempo do que o tempo que a humanidade possivelmente tem para resolver entre si uma política na Terra, pela Terra e para a Terra, cuja vitalidade consistiria em nada menos do que ser capaz de garantir a sobrevivência plena da vida em toda a sua diversidade e assegurar o direito à fruição de uma vida boa para todos os seres do mundo.

Imagen: André Guerra - Amigos de la Tierra Brasil

(CC) 2014 Radio Mundo Real

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