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3 de Outubro de 2013 | Entrevistas | Anti-neoliberalismo | Direitos humanos | Lutadores sociais em risco
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Na manhã da sexta-feira 27 de setembro, o céu do município de Santa Cruz Barillas (departamento de Huehuetenango, Guatemala) amanheceu com presença de dois helicópteros. Nessa mesma manhã, civis e militares capturaram o militante Maynor López, reconhecido líder opositor à instalação do projeto hidrelétrico Santa Cruz, pertencente à empresa Hidralia SA de capitais espanhóis, mediante sua subisdiária Hidro Santa Cruz.
Os sequestradores apontaram com armas de fogo e agrediram Maynor, levando-o em uma camionete (muito similar aos veículos da empresa segundo os moradores), até um lugar distante da comunidade, onde estava um dos helicópteros que o levou até a capital Ciudad de Guatemala. As comunidades não hesitaram em chamar a ação de sequestro.
“É um plano de agressão e invasão transnacional sob a tutela dos governos que implementam projetos de saqueio em nome de um falso desenvolvimento”, afirmou Basilio Tzoy em entrevista com Rádio Mundo Real, descrevendo o assédio permanente do qual estão sendo vítimas as comunidades guatemaltecas que resistem contra os mega-projetos transnacionais. Uma situação que para ele "faz lembrar e reviver o conflito armado interno na Guatemala durante 36 anos de guerra".
Anos de repressão
A resistência a este projeto hidreléctrico existe desde 2007, ano em que as comunidades repudiaram de forma contundente através de consultas populares, a instalação de megaprojetos em seus territórios. Mas o conflicto continuou e agravou-se no dia 1º de maio de 2012, quando homens armados emboscaram e assassinaram Andrés Francisco Miguel, ferindo gravemente ainda seus companheiros Pablo Antonio Pablo e Esteban Bernabé.
O governo de Otto Pérez Molina decretou um Estado de Sitio em Santa Cruz Barillas nesse dia, o que gerou prisões arbitrárias e violações de direitos humanos dos moradores e moradoras. Oito dos defensores comunitários e territoriais ficaram presos durante mais de oito meses, sendo liberados somente no início deste ano.
Nova ofensiva violenta
Esta foi a segunda vez que Maynor foi sequestrado. Em maio deste ano o militante foi capturado e torturado em circunstâncias similares às recentes. Agora, o dirigente estaria sendo acusado por “delitos de evasão, roubo agravado, atentado com agravação específica e instigação a delinquir”, conforme Prensa Comunitaria.
No entanto, por trás destas acusações está o fato de que Maynor foi um dos principais opositores a uma mesa de negociação com participación restrita que o presidente Otto Peréz Molino quis impor junto à empresa Hidro Santa Cruz na comunidade no dia 3 de setembro. Além do sequestro de Maynor, existem cerca de 22 ordens de captura contra defensores comunitários de Santa Cruz Barillas, e por isso foram enviados cerca de 700 policiales para essa zona, conforme Tzoy.
A resistência aumenta
“Santa Cruz Barillas tem estado em Assembleia Permanente, com cerca de 5 mil, 8 mil pessoas presentes cada vez que se reunem”, indica Basilio em referência à fortaleza que tem a resistência à instalação do megaprojeto.
Acrescenta ainda que somam-se oito municípios à resistência do departamento de Huehuetenango, além das comunidades do departamento de Quiché, que estão em luta contra outros projetos hidrelétricos.
Por último, Basilio indica que embora a empresa Hidro Santa Cruz tenha suspendido o trabalho na região, “seus infiltrados continuam nas comunidades, tiveram reuniões, estão comprando líderes, e têm ameaçado inclusive seus próprios trabalhadores”.
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